sábado, 22 de setembro de 2012

À Primeira Vista

Entardecer visto do alto do Morro da Providência - RJ

 Central do Brasil vista do Morro da Providência
Nossa aventura de quinta foi visitando um lugar de primeira. Subimos o Morro da Povidência e sendo a minha primeira vez, fui sem a menor idéia do que ia encontrar. Logo no início da subida me deparei com uma escada de pedra que com certeza está lá desde muito antes de eu nascer. E aos poucos fui junto com meu grupo formado pelo professor Paulo Barros, os alunos-moradores Lucas Medeiros e Oliver Barba além dos meus colegas Thaís Alvarenga e Vitor Madeira descobrindo escadas e ladeiras que a cada momento me mostravam um morro com aspectos singulares, a começar pela vista. Não é preciso subir muito para começar a ver a cidade e suas construções que em nossas cabeças nos remetem ao barulho das grandes cidades. É uma oportunida de ver as horas na Central do Brasil sem buzinadas ou de ver todo o caos e tumulto lá de baixo apreciando somente o que não podemos saborear apesar de muitos passarem por lá todos os dias.
Mas nem tudo são flores apesar delas também estarem presentes no morro. O morro, em tese pacificado pela UPP  segue numa outra guerra. A guerra do desenvolvimento e do fantasma da desocupação. Fantasma esse que já se tornou real para uma parte dos moradores. O som que nos acompanha lá em cima não é o das buzinas dos carros mas dos motores das máquinas, das britadeiras, do cimento sendo feito. As obras do teleférico estão a todo vapor, mesmo quando a tarde cai a impressão que se tem é que as obras vão romper o silêncio da noite por que nada impede o progresso. Progressso esse que para quem não está a par da situação leva a pensar que é realmente maravilhoso finalmente alguém olhar para o povo do morro e levar alguma melhoria para a vida dessas pessoas. Concordo que olhar para as pessoas do morro e levar para elas qualidade de vida é muito bom mas apesar dessa iniciativa aparentemente bondosa o que podemos perceber é um lobo grande e feio escondido embaixo dessa pele de cordeiro. O lobo feroz das remoções.
Obra do Teleférico da Providência. Mesmo com o cair da tarde nada pára.
Primeiro chegou a UPP e fez com que os marginais saíssem (ou se escondessem), depois vieram convenientemente as políticas públicas, que deveria servir para melhorar a vida dos menos favorecios mas o que acontece na verdade é uma política pública voltada para o capitalismo, visando o lucro dos empresários sem se importar com o povo.
Pessoas que passaram a vida inteira no morro da Providência, que dignamente trabalharam para terem um pouco mais de conforto hoje são enxotadas de lá como ratos de esgoto, como se sua história fosse menos importante do que tudo.
Dona Santina, 90 anos, 40 vividos na Providência
Enxotadas sim porque querem que saiam, mas não vejo nenhuma medida para que saiam dignamente, pois cada um pode vender o que é seu caso queira, mas por ser seu, que o dono estipule seu valor, ou se mesmo assim não quiser sair cabe aos interessados aceitarem esse fato. Não simplesmente estipular um valor irrisório que seja de uma indenização ou de um aluguel social e dizer: "É isso! Ou sai ou sai!"
Vejo pessoas como a dona Santina que do alto dos seus 90 anos, destes, 40 morando na Providência com a preocupação de  terem que desocupar suas casas. Quando perguntada sobre o que aconteceria caso fosse obrigada a sair de sua casa ela sem titubear respondeu: "Se eu tiver que sair daqui eu morro!"
E alguém acha que a iniciativa privada que está financiando senão todo mas a maior parte deste progresso está se importando com isso? Acho que essa é uma pergunta retórica. Não é preciso ter muito estudo ou ter uma inteligência acima da média para entender que a iniciativa privada enxerga o lucro que terá no futuro quando investe no presente, isso sem se importar com "que ovos" precisarão ser quebrados para fazer a sua omelete.
Com todo esse "progresso" acontecendo, será que esse caramanchão vai chegar a existir?






Nenhum comentário:

Postar um comentário